segunda-feira, 18 de maio de 2009

SILÊNCIOS QUE GRITAM (III) - RUMO AO DESCONHECIDO


Antes ainda de desaparecerem da paisagem, os caminhos desapareceram da alma humana: o homem já não sente o desejo de caminhar e de extrair disso um prazer. (Milan Kundera)

Rumar ao desconhecido, abandonar lugares e afectos profundos, arquivar o imaginário na penumbra das boas recordações, é um verdadeiro salto no escuro, sem rede e sem retorno.
Acusar, quem o faz, de bater em debandada, não é seguramente o melhor caminho.
É ficar nos bicos dos pés à espreita do pretexto de cavalgar à custa de dramas de terceiros. É o clássico arremesso de pedras, é o diabolizar ausências, obedecendo à lógica incapacitadora de dissecar as circunstâncias que rodearam e determinaram a partida. Cada homem é uma história e esta não pode ser, manhosamente avaliada. A colagem de rótulos processa-se anarquicamente. É o arrivismo no posto de comando. Perde-se de vista a construção de sonhos e expectativas. Privilegia-se o assalto à visibilidade e aos centros decisores. As florestas da hipocrisia atiçam a intolerância e a compreensão do outro.
Impreparado para digerir a nova realidade, cercado pelo fundamentalismos, relegado para o submundo da escassez e da fome, acossado no interior do seu próprio quintal, a decisão de partir constitui a última oportunidade para se libertar da espiral de miséria e reencontrar a esperança, ao virar da esquina.
Confrontado com o enigma, inicia a fuga, para a frente, na expectativa de fazer uma escolha entre duas espécies de desconforto, optando por uma terapia menos dolorosa
Rasgar muros e medos, forrados de cinismo escavados na banalização da indiferença, é o próximo desafio a vencer. Atropelar a memória, driblar o preconceito e a opacidade do outro, são jogadas de laboratório a ensaiar
Homens e mulheres, enclausurados em guetos de sociedades eticamente anestesiadas, reciclados nas fronteiras da indiferença, são submetidos à tortura dum clima social instável e agreste.
Aqui, a coluna vertebral regressa, por vezes, às origens identitárias e aceita o desafio.
A impressão digital dos afectos e das cumplicidades deixa um travo de nostalgia, e recorda que o combate mal começou

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