sábado, 18 de julho de 2009

PEDIDOS DE REGULARIZAÇÃO DE IMIGRANTES, DA ORDEM DOS 60%, FORAM RECUSADOS PELO SEF


Mais de 70 mil processos para regularização de imigrantes, ao abrigo do art. 88, entraram nos serviços do SEF desde o final de 2007. No entanto, apenas 42% concluíram o processo de legalização. Dos processos entrados este ano, quase três mil (63%) foram recusados, com notificações imediatas para o abandono do país.
De acordo com dados divulgados na imprensa, 63% dos pedidos recebidos este ano pelo SEF foram recusados, tendo havido 2.901 imigrantes a receber notificações para abandonar o país. Desde finais de 2007, foram 71.362 os pedidos de regularização que entraram no SEF ao abrigo do artigo 88, mas apenas 42% conseguiram concluir o processo de legalização.Em declarações à imprensa, dirigentes de associações de defesa dos imigrantes revelaram o seu descontentamento com esta situação. Paulo Mendes, coordenador da Plataforma de Associações de Imigrantes, afirma que "as notificações são o pão nosso de cada dia" e acusa o SEF de ser "um dos motores da ilegalidade, em vez de encaminhar as pessoas para a legalidade".Por seu lado, Gustavo Behr, presidente da Casa do Brasil, afirma que quando se faz um pedido de regularização através do artigo 88 é porque se "preenchem os requisitos e, como tal, deveriam ser todos regularizados".
Retirado do Net-esquerda

sexta-feira, 17 de julho de 2009

SILÊNCIOS QUE GRITAM (VII) A MIGRAÇÃO E O JORNALISMO ACRÍTICO


Os média deveriam ser o alicerce da sociedade democrática que desafia a autoridade e oferece ao povo a oportunidade igual de aprender e participar. (Noam Chomsky)
No decurso da guerra fria, um jornalismo acrítico e de subserviência em relação a regimes liberais, eminentemente anti-comunistas, defensores e servidores do status quo e do grande capital, sempre se disponibilizaram para noticiar a problemática dos refugiados das ditaduras comunistas! Faziam-no duma forma parcial, arbitrária e subserviente
Hoje, apesar da “liberdade” finalmente conquistada, das regiões orientais da Alemanha, da Polónia, Roménia, Albânia, etc., o fluxo migratório não cessa de aumentar. Sobre esta realidade, os chamados jornais de referência remetem-se para um silêncio sepulcral! Com os muros a aprisionar palestinos na sua própria Pátria ou com a muralha americana a separar o México, a evocação do Muro de Berlim já não pode, obviamente, surtir o efeito de outrora.
Este império da mentira e da desinformação, continua na frente de combate pela manipulação da opinião pública à escala global e é igualmente responsável pela onda de xenofobia que ameaça os migrantes em geral e, em particular, os de origem árabe ou africana

NA ILHA DE MOÇAMBIQUE


HISTÓRIAS DA EMIGRAÇÃO

A problemática migração, e o que lhe está associado, é o objecto deste blogue. Tenho alguns textos por concluir e/ou por publicar.
Entretanto, não resisti, a este trabalho de José Saramago, retirado daqui:
Histórias da emigração
Que atire a primeira pedra quem nunca teve nódoas de emigração a manchar-lhe a árvore genealógica… Tal como na fábula do lobo mau que acusava o inocente cordeirinho de lhe turvar a água do regato onde ambos bebiam, se tu não emigraste, emigrou o teu pai, e se o teu pai não precisou de mudar de sítio foi porque o teu avô, antes dele, não teve outro remédio que ir, de vida às costas, à procura do pão que a sua terra lhe negava. Muitos portugueses morreram afogados no rio Bidassoa quando, noite escura, tentavam alcançar a nado a margem de lá, onde se dizia que o paraíso de França começava. Centenas de milhares de portugueses tiveram de submeter-se, na chamada culta e civilizada Europa de além-Pirinéus, a condições de trabalho infames e a salários indignos. Os que conseguiram suportar as violências de sempre e as novas privações, os sobreviventes, desorientados no meio de sociedades que os desprezavam e humilhavam, perdidos em línguas que não podiam entender, foram a pouco e pouco construindo, com renúncias e sacrifícios quase heróicos, moeda a moeda, centavo a centavo, o futuro dos seus descendentes. Alguns desses homens, algumas dessas mulheres, não perderam nem querem perder a memória do tempo em que tiveram de padecer todos os vexames do trabalho mal pago e todas as amarguras do isolamento social. Graças lhes sejam dadas por terem sido capazes de preservar o respeito que deviam ao seu passado. Outros muitos, a maioria, cortaram as pontes que os ligavam àquelas horas sombrias, envergonham-se de terem sido ignorantes, pobres, às vezes miseráveis, comportam-se, enfim, como se uma vida decente, para eles, só tivesse começado verdadeiramente no dia felicíssimo em que puderam comprar o seu primeiro automóvel. Esses são os que estarão sempre prontos a tratar com idêntica crueldade e idêntico desprezo os emigrantes que atravessam esse outro Bidassoa, mais largo e mais fundo, que é o Mediterrâneo, onde os afogados abundam e servem de pasto aos peixes, se a maré e o vento não preferiram empurrá-los para a praia, enquanto a guarda civil não aparece para levantar os cadáveres. Os sobreviventes dos novos naufrágios, os que puseram pé em terra e não foram expulsos, terão à sua espera o eterno calvário da exploração, da intolerância, do racismo, do ódio à pele, da suspeita, do rebaixamento moral. Aquele que antes havia sido explorado e perdeu a memória de o ter sido, explorará. Aquele que foi desprezado e finge tê-lo esquecido, refinará o seu próprio desprezar. Aquele a quem ontem rebaixaram, rebaixará hoje com mais rancor. E ei-los, todos juntos, a atirar pedras a quem chega à margem de cá do Bidassoa, como se nunca tivessem eles emigrado, ou os pais, ou os avós, como se nunca tivessem sofrido de fome e de desespero, de angústia e de medo. Em verdade, em verdade vos digo, há certas maneiras de ser feliz que são simplesmente odiosas. (José Saramago)

quarta-feira, 1 de julho de 2009

PROTESTO MIGRANTE


Em estaleiros de vidas adiadas
homens e mulheres
enclausurados em guetos
de sociedades sem ética
acossados para a marginalidade
reciclados nas fronteiras
da indiferença
a pretexto de serem estrangeiros
estigmatizados pela origem
jazem na miséria e na perseguição
docilizam a revolta
reproduzem a exclusão

retirado de PoesiadeAgry